59º Passeio Fevereiro 2006



À Descoberta da RAMALHOSA

Ramalhosa, pequeno lugar da freguesia de Alvorninha que pertenceu ao Concelho de Santa Catarina dos antigos Coutos de Alcobaça, foi o local escolhido pelos Caminheiros dos Pimpões, no último domingo de Fevereiro, Domingo de Carnaval, para realizarem o seu 59º passeio pedestre.

O grupo parte da Associação e prossegue para Sul, por caminhos de terra batida, pelos Maios, Casal da Ribeirinha, em direcção à aldeia do Pego. O regresso é feito pelo Casal da Pedreira e Cabeço Boieiro.

O topónimo deste lugar, segundo algumas testemunhos contactados, entre as quais os senhores André Barros Henriques e António Daniel Santos, está associado ao étimo “Carvalhosa”, isto é, à mata primitiva, constituída essencialmente por carvalhos “Quercus”. Segundo eles, com o passar dos anos, este étimo sofreu algumas alterações ortográficas e deu origem à palavra “Ramalhosa”.

A história da aldeia e das suas gentes perde-se no tempo, projectando-se no passado até à Pré-História, ao período Neolítico, fase do Megalitismo (8 a 4.000 anos a.C.), provavelmente associada às construções em grandes pedras que deram origem à denominação da aldeia das Antas.

Ainda hoje há vestígios que poderão indiciar a existência de um povoado. Podem ser testemunhos deste passado umas grutas localizadas junto à Quinta do Pego e algumas pedras trabalhadas, tais como “o marco branco”, (há o grande e o pequeno), que ainda resistem à erosão e à destruição humana.

A aldeia do Pego actualmente está associada a uma eminente figura portuguesa, D. José da Cruz Policarpo, filho de José Policarpo (1902) e de Maria Gertrudes Rosa (1909), que atingiu o mais alto cargo da Igreja Católica Portuguesa, Cardeal-Patriarca de Lisboa.

Tendo nascido a 26 de Fevereiro de 1936, por ser dia de aniversário e se encontrar reunido com a sua família para confraternizar, os Caminheiros tiveram a oportunidade de presencialmente cantarem os parabéns a Sua Eminência, enquanto degustavam uns deliciosos coscorões! Parabéns, Senhor Cardeal, pelo seu septuagésimo aniversário.

Nos princípios do século XIV, na Carta de Foro ou de Povoação atribuída a Santa Catarina por parte do abade de Alcobaça, o termo desta Póvoa aparece definido, por um lado, com uma área compreendida entre a Granja da Ferraria e a Granja Nova e, por outro, entre o Bairro da Figueira, a Ramalhosa, o Zambujal, as Antas e o Carvalhal Benfeito.

Boa parte das terras englobadas no termo da Póvoa de Santa Catarina encontravam-se revestidas de floresta. Estas terras estavam cobertas pela típica e primitiva floresta portuguesa formada quase toda por sobreiros e carvalhos. É destas espécies autóctones que derivaram nomes de algumas localidades entre as quais se destacam a Ramalhosa, a Mata de Porto Mouro e o Carvalhal Benfeito, entre outras.

Em 1514, a aldeia da Ramalhosa, inserida no concelho de Santa Catarina, aparece referenciada com uma população de oito vizinhos. Podemos assim concluir que, já no século XVI, esta localidade era bastante povoada, atendendo ao número de habitantes residentes nos meios rurais na época, comparativamente ao lugar das Antas que apenas possuía seis vizinhos, e aos Barrio da Figueira e Carvalhal Benfeito, hoje freguesia, estes com dez vizinhos cada.

Não escapando à reorganização administrativa do século XIX, a Ramalhosa, em 1836, já integrada na freguesia de Alvorninha, é anexada ao concelho das Caldas da Rainha.

O antigo concelho de Santa Catarina não seria anexado às Caldas sem polémica, que se arrastou desde 1836 até 1898, data em que cessou o vaivém de Santa Catarina, entre Alcobaça e Caldas da Rainha.

Das origens da aldeia remonta a capela de N.ª S.ª da Graça que se encontra associada à seguinte lenda: “Há vários séculos atrás, três homens que andavam no mar e que residiam na zona, um do lugar dos Lobeiros, outro nos Maios e o terceiro na Ramalhosa, Manuel Carvalho Bentes de seu nome, sobreviventes da sua campanha no mar, prometeram que, no regresso a terra, mandariam edificar uma capela onde fosse o melhor lugar, em agradecimento pela graça recebida...”. A promessa foi cumprida. O edifício actual possui uma linda cúpula onde estão representadas, no seu interior, alguns desenhos circulares e impregnados com a técnica de pintura a fresco. No exterior, pequenos coruchéus árabes fazem lembrar uma antiga mesquita!

A capela tem sofrido várias obras de intervenção e restauro ao longo dos anos. Em 1930, como se pode constatar no interior do templo, foi um dos anos desta intervenção. Contudo, as verdadeiras alterações na traça da capela, com especial incidência no altar-mor donde foi completamente retirada a talha dourada, modificaram completamente a traça deste tempo cristão.

Junto à fachada principal da capela, pode ser observado um cruzeiro datado de 1677. Do outro lado da mesma capela e situado numa pequena rotunda para nascente, encontra-se outro cruzeiro, de 1954, data que assinala o Ano Mariano. Estes monumentos merecem uma visita propositada.

Associada a esta comunidade religiosa temos que destacar o cemitério novo, trasladado do largo junto à capela na década de 70 (1970) e que consta de alguns jazigos e um número bastante significativo de campas. Este cemitério serve também de apoio funerário aos residentes dos Maios, dos Baixinhos, da Louriceira, dos Lobeiros e do Vale Serrão. Em Alvorninha, além da Ramalhosa e do cemitério principal na sede de freguesia, apenas o lugar da Moita tem cemitério.

Os sectores primários associados à agricultura e pecuária, redes de frio e carpintaria têm desempenhado um papel de relevo no desenvolvimento económico desta terra. Outrora existiu aqui também uma fábrica de pólvora do fogueteiro Luís António, proveniente do concelho da Batalha. Este empresário foi um exímio fabricante de foguetes, tão essenciais para a animação de qualquer festa popular.

Os moinhos de vento de António Daniel e Joaquim Daniel, em fase de recuperação, foram também um suporte económico para as populações da zona.

Ainda hoje esta actividade económica está em franca prosperidade como o testemunham a “Padaria Regional da Ramalhosa”, de Luís Barros Caetano. Mantendo a tradição familiar desde Abril de 1978, este Padeiro tem desempenhado um papel de excelência no fabrico do tão afamado Pão Caseiro da Região Oeste.

O futebol da A.N.D.A.R., Associação Desenvolvimento da Área da Ramalhosa é uma realidade concreta e um dos casos de sucesso que acaba por desempenhar um papel importante no desenvolvimento local.

Contribuíram para o sucesso deste passeio pedestre a Direcção da “ANDAR”, com destaque para o seu Presidente, Sr. Manuel Fialho que, desde o principio, se disponibilizou para organizar e dinamizar o “almoço da matança”. A confecção das tão afamadas filhós e café da avó cada vez mais nos fazem recordar os tempos idos... Ao Sr. Brandão agradecemos também todo o seu empenho.

Texto – Manuel Correia Fotos – Ana Sousa Santos e Jorge Melo

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