77º Passeio Outubro 2007



Da lagoa para o campo ” NADADOURO "

28 de Outubro de 2007

No último domingo de Outubro, o habitual fim de semana do passeio pedestre dos Pimpões em parceria com a Casa da Cultura José Bento da Silva, de S. Martinho do Porto, os relógios mais uma vez sofreram as alterações do Outono, sujeitando-se ao atrasado de uma hora, possibilitando aos amantes do sono o regalo de aconchegarem, por mais sessenta minutos, os lençóis aos seus olhos ensonados.

À hora habitual, nove horas, na sede dos Pimpões, compareceram poucos caminheiros (o que provocou algum espanto nos elementos da organização). Contudo, no Nadadouro, na Associação Cultural e Recreativa, o ponto de encontro combinado, o grupo compôs-se, ultrapassado mesmo as expectativas. Uma centena de pessoas, entre as quais um número significativo de jovens compareceu para realizar o 77º passeio dos Pimpões. A Direcção da Associação também quis impressionar colocando à disposição dos caminheiros um típico pequeno almoço reforçado com café d’avó, sonhos e bolos regionais.

Iniciando a marcha pelas ruas da povoação, o grupo dirigiu-se em direcção à Lagoa de Óbidos em cujas margens se pode apreciar uma beleza natural ímpar na nossa Região, com a sua vegetação circundante deslumbrante e diversidade de aves tais como flamingos, patos, corvos marinhos, tarambolas, maçaricos e gaivotas, que impõem o silêncio a qualquer transeunte que circule.

De passagem pela Quinta da Barrosa, antiga propriedade do Sr. Luís dos Santos Barrosa, formada antigamente por casa senhorial com capela, piscina, instalações para o gado da lavoura, lagar e forno de tijolo, o grupo foi agraciado, mais uma vez, com fruta da época e água para refrescar e limpar alguns resquícios de pó nas sequiosas gargantas.

Marchando em direcção a Norte os caminheiros prosseguiram por estradas de terra batida empoeiradas por entre vinhedos e pinhais alternados com eucaliptos e mata mediterrânea, num trajecto circular com cerca de dez quilómetros.

No regresso à aldeia, por atalhos e veredas, foi feita uma breve visita à azenha dos Robertos, (em obras de recuperação) onde há algumas décadas atrás, a D. Joaquina Ferreira, viúva de António Roberto, ainda fazia mover a única mó que constituía esta azenha, conhecida pela “azenha do Moinho Novo”.

Foi-nos chamada a atenção pelo actual proprietário José Gonçalo Ferreira, emigrante no Canadá, mas presentemente de férias na sua terra, e pelo seu irmão António Gonçalo, que, outrora, este espaço foi residência de frades (possivelmente frades franciscanos). Ainda se pode ver, na divisão da capela, um pequeno nicho onde se encontrava exposta a imagem de Nª Sª de Guadalupe. Segundo o proprietário, este ícone presentemente encontra-se na capela da Quinta da Foz.

No Vale do Nadadouro, junto aos poços e ribeiro laborava outrora outra azenha com duas mós, que pertencia à família Félix, bem maior do que a dos Robertos, cuja ruínas ainda resistem ao tempo.

Não podemos falar do Nadadouro sem recordar uma eminente figura que marcou esta Região no início do Século XX, Grandela.

Francisco de Almeida Grandela, (1852-1934) Republicano convicto e um dos principais defensores e mecenas do Regime Republicano implantado em Portugal a 5 de Outubro de 1910, antigo proprietário do “Palacete Grandela”, actual INATEL da Foz do Arelho, conseguiu trazer para o Nadadouro e Foz o antigo Ensino Primário.

Grandela ficará para sempre associado também aos célebres Armazéns do Chiado, antigas dependências do Convento do Espírito Santo, que tinham como divisa "Ganhar pouco, servindo bem o público" e pretendiam trazer, nos finais do Século XIX, um pouco de Paris a Lisboa. Recordamos que estes grandes edifícios, actualmente com uma nova arquitectura, foram devastados, (há já dezanove anos) por um grande incêndio que deflagrou a 25 de Agosto de 1988.

Numa pequena recolha feita entre os moradores mais experientes em tradições populares, conseguimos apurar duas versões sobre a origem do topónimo, Nadadouro.

Numa primeira versão, este lugar parece estar associado à água e à prática da natação, ou pelo menos, à recordação de um sítio onde se tomava banho. Fala-se da existência de um lago de água doce, (perto do actual cemitério), onde os pastores, após a sua labuta diária e mesmo enquanto guardavam os rebanhos, davam alguns deliciosos mergulhos nos dias de maior calor.

Outra versão conta-nos que, antigamente, passavam na Lagoa barcos com pequenos carregamentos de ouro e que faziam a ligação entre a costa e o interior. Por razões diversas, provavelmente devido a temporais, algumas dessas embarcações ter-se-iam afundado. Com o passar dos anos, as populações locais, com a habitual curiosidade e interesse por tesouros perdidos, fizeram as suas prospecções no local identificando os barcos afundados, principalmente nas marés baixas. No meio desta azáfama, quando não encontravam qualquer vestígio deste metal precioso gritavam uns para os outros, “Nada d’ Ouro!”. E terá, assim, esta expressão dado o nome a esta bela terra.

À direcção da Associação Cultural e Recreativa do Nadadouro principalmente ao seu Presidente, Sr. Vítor Silva, um dos dinamizadores deste passeio, almoço e convívio, deixamos expressos os nossos agradecimentos.

Se gosta de caminhar, venha juntar-se ao grupo no próximo passeio que se realizará ao lugar da Pederneira, na Nazaré. Este evento terá o seu ponto de encontro às nove horas, no último domingo de Novembro, em frente à Casa de Cultura de S. Martinho do Porto ou na sede dos Pimpões.


Texto – Manuel Correia

Fotos – Ana Sousa Santos e Jorge Melo

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