79º Passeio Janeiro 2008
"Pelos caminhos dos Cruzados em A-dos-Francos"
27 Janeiro 2008
No último domingo de Janeiro, o grupo de caminheiros dos Pimpões, em parceria com a Casa da Cultura José Bento da Silva, de S. Martinho do Porto, escolheu a freguesia de A-dos-Francos para efectuar mais um dos seus belos passeios matinais.
Após uma breve recepção na Associação Cultural onde foi colocado à disposição do grupo um pequeno-almoço reforçado com café d’avó e fatias douradas, os cerca de sessenta e cinco madrugadores e amantes da natureza fizeram-se à estrada por carreiros e caminhos de terra batida, numa extensão de nove quilómetros para concretizarem o 79º passeio pedestre.
Esta linda freguesia rural do Concelho das Caldas da Rainha, com um relevo bastante acidentado, encontra-se localizada num vale que é atravessado pelo rio Arnóia.
A sua história, segundo a tradição, remonta até à época de D. Afonso Henriques, séc. XII, tendo sido doada, como comenda, aos Cruzados Francos, pelo primeiro Monarca Português, devido à ajuda prestada na conquista do território contra os Mouros. Para quem combatesse os Mouros na Península Ibérica, o Papa concedia indulgências plenárias.
De facto, quando surgiu o reino de Portugal, a cristandade agitava-se no fervor das Cruzadas do Oriente. Os portos da Galiza, a barra do Douro e a vasta baía de Lisboa, eram pontos de escala das frotas de cruzados que do Norte da Europa seguiam para a Terra Santa.
Em 1147, entra na barra do Douro, vinda de Dartmouth, uma frota de 200 velas, transportando cruzados de várias nações, alemães, franceses e ingleses, num total de 13 000 homens. Aproveitando este facto, o nosso primeiro Rei escreveu ao bispo do Porto, D. Pedro, pedindo-lhe que persuadisse os cruzados a ajudarem-no na conquista de Lisboa, prometendo-lhes o saque. O sucesso foi total apesar da resistência dos Mouros.
Um capitão dos cruzados, denominado Jourdan, foi senhor e parece que o primeiro povoador da Lourinhã. Ao francês Allardo foi doada a Vila Verde dos Francos, no distrito de Lisboa e concelho de Alenquer. Na mesma sequência de doações e segundo a tradição, esta terra de A-dos- Francos foi entregue também a cruzados franceses.
Mais tarde, no princípio do séc. XIX, passaram por aqui as tropas napoleónicas, na primeira invasão francesa comandada por Junot. Uma das famílias do lugar de Vila Verde de Matos, a família Ginós, parece ter tido a sua ascendência num dos soldados de Junot.
Após a fundação do concelho das Caldas, em finais do séc. XIX, a freguesia de A-dos-Francos depois ter pertencido a Óbidos, foi anexada à Vila das Caldas assim como outras vilas e freguesias de Alcobaça.
Esta freguesia foi local de passagem para a estância termal, nos seus tempos áureos, como ainda o testemunham a típica estação da Mala-posta, com planta em “U”, construída para o primeiro serviço de mala-posta inaugurado em Portugal no séc. XIX, entre Lisboa e Porto, no casal dos Carreiros. A diligência da Mala-posta assegurava o transporte de correio e de passageiros que pernoitavam, durante o trajecto nestas estações, onde também se mudavam os cavalos.
O seu interior funcionava como estalagem, fornecendo alimentação e dormida. As estrebarias e a casa do estalajadeiro, hoje desaparecidas, ficavam nas traseiras.
A Mala-posta viria a entrar em decadência e a desaparecer completamente com a inauguração do caminho de ferro, entre Lisboa e o Porto.
O orago desta freguesia é S. Silvestre, o Papa que assistiu ao triunfo de Constantino. Foi este Imperador Romano que, com o Edito de Milão, no ano 212, deu liberdade religiosa aos cristãos.
A centenária Sociedade de Instrução Musical, Cultura e Recreio e a sua Banda, data de 15 de Abril de 1906.
Na sua fundação recordam-se os nomes de Artur Peixoto Ferreira (Landal), Adolfo Monteiro de Sousa e o Padre José Pereira Simões. Alguns anos mais tarde, Adolfo Monteiro de Sousa construiu o primeiro teatro da Região, inaugurado pela grande actriz da época, D. Palmira Bastos, ficando este teatro instalado no local onde hoje se encontra a Sociedade de Instrução Musical.
As instalações albergam um auditório, para cerca de quatrocentas pessoas e um museu de instrumentos musicais com uma pequena biblioteca. As instalações foram construídas com apoios públicos e com o dinheiro da população e dos sócios da Associação.
A Banda de A – dos - Francos é muito prestigiada e tem realizado imensos concertos. Na escola de música, as crianças da aldeia aprendem a tocar os instrumentos de sopro donde tem saído a matéria prima para várias bandas nacionais. Como exemplo, temos o caso de Vítor Santos que, nos anos 60 e 70, passou a ter presença assídua na Televisão, como um dos melhores saxofonistas portugueses.
Hoje a aldeia possui várias infra-estruturas de que os seus habitantes se orgulham: Centro de Saúde, Banco, Colégio privado do Ensino Básico, denominado Colégio Frei São Cristóvão e piscinas Municipais.
Entre as suas principais actividades económicas destacam-se a agricultura, a pecuária, a carpintaria, a indústria de mobiliário e a construção civil.
À direcção da Sociedade de Instrução Musical, Cultura e Recreio principalmente ao seu Presidente, sr. Fernando Soveral, um dos dinamizadores deste passeio e almoço, deixamos expressos os nossos agradecimentos.
Se gosta de caminhar, venha juntar-se ao grupo no próximo passeio que se realizará em Alpedriz, no concelho de Alcobaça. Este evento terá o seu ponto de encontro às nove horas, no último domingo de Fevereiro, em frente à Casa de Cultura de S. Martinho do Porto ou na sede dos Pimpões.
Texto – Manuel Correia
Fotos – Jorge Melo / Sandra Costa
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