62º Passeio Maio 2006



À procura de D. Pedro e Inês de Castro no Planalto das Cesaredas

O topónimo de Cesaredas, segundo a tradição, deve-se ao facto das tropas comandadas por Júlio César, (séc. III a C.) terem acampando neste planalto, a quando a conquista romana da Península Ibérica (Lusitânia / Hispânia). O Planalto das Cesaredas é um maciço calcário datado do Jurássico Superior com cerca de 140 milhões de anos, onde são visíveis diversas fases desse período. Há três zonas que envolvem este planalto, o Vale Roto, os Bolhos e a Serra D’El Rei, diferenciadas pelo seu grau de pureza em calcário e pela abundância de fósseis. O Planalto, como prolongamento do sistema montanhoso Serra de Aire/Candeiros e Montejunto, abrange, assim, áreas de quatro concelhos: Bombarral, Lourinhã, Óbidos e Peniche, com cerca de 7.000 residentes distribuídos por 20 povoações.

Aqui se encontram seis sedes de freguesia: a freguesia do Pó, a freguesia de Moledo, a freguesia do Reguengo Grande, a freguesia de S. Bartolomeu dos Galegos, a freguesia de Olho Marinho e a freguesia da Serra D’El Rei. Vestígios pré-históricos e romanos podem ser identificados nos Casais das Cesaredas e Talefo. Este planalto foi também, mais recentemente, palco da Batalha da Roliça, aquando da primeira invasão francesa comandada por Junot, a 17 de Agosto de 1808, em que saíram vitoriosas as tropas luso-inglesas. As tropas francesas não deixaram saudades. O registo da memória popular refere, a este propósito, que todos os franceses encontrados depois da batalha da Roliça, foram deitados a um poço. Deste modo, todos os que carregassem nos “rr” estavam condenados. A zona da Serra do Picoto, belíssima área natural agreste onde se pode admirar uma paisagem esplendorosa, é testemunho disso mesmo.
No seu cume pode identificar-se uma grande cruz de pedra que assinala o reencontro das tropas. Conjuntamente com a riqueza geológica, ambiental o Planalto de Cesaredas apresenta um vasto património histórico/cultural, com destaque para a etnografia que lhe confere o estatuto de conjunto único a preservar.

Os aspectos históricos podem ser comprovados pela existência de inúmeras grutas (com destaque para a Gruta Nova e Lapa do Suão, na Columbeira), castros, moinhos de vento, azenhas, pontes, igrejas e fontes. Estas grutas terão sido habitadas durante o período romano, servindo de acampamento para as tropas. Moinhos de vento, geralmente em alvenaria, ainda se encontram em plena actividade. Encaixado em plena serra escarpada, destaca-se o Vale do Roto, que engloba na sua deslumbrante paisagem uma variedade de aves de rapina e diversas espécies de caça.

Na sua FLORA, árvores monumentais e zonas de mata mediterrânea, bem como espécies vegetais únicas, podem ser aqui identificadas: espécies herbáceas: jacintos silvestres, dentes de Leão, ervas patas, flores de um amarelo vivo, cardos e pequenas flores lilás; espécies arbustivas: carrascas (quercus coccifera), que geralmente brotam dos brancos maciços da rocha calcária; espécies arbóreas: pinheiro bravos, que concedem locais aprazíveis de ensombramento e várias espécies de carvalhos (quercus faginea). O planalto não é uma zona muito favorecida para a agricultura devido à disposição do terreno com rochedos e mato. Algumas pessoas aproveitam os campos como pastorícia para cabras e ovelhas.

Sobre a FAUNA podem ser identificados coelhos bravos, lebres, ratos do campo, toupeiras-comuns, doninhas, corujas do mato, cobras-rateiras, lagartixas - verdes, águias, corvos, entre outros. O grande desafio do futuro será conciliar as necessidades humanas com a preservação do ambiente. Tal como em outras localidades, já se verificam neste Planalto inúmeros depósitos de lixo e alguns zonas de grande infiltração e circulação de águas sem qualquer processo de filtragem, o que se reflecte na contaminação das águas para consumo.

O REGUENGO GRANDE Há registos desta aldeia desde 1433. A freguesia data de 1525 e o patrono é S. Domingos, padroeiro dos animais, festejado em Agosto. O Reguengo Grande (perto, há também o Reguengo Pequeno) pertenceu ao Concelho de Óbidos até Novembro de 1836, tendo passado a pertencer ao Concelho da Lourinhã depois da reforma administrativa. O Vale Cornaga, onde meandra o rio Galvão, outrora foi uma zona vital de desenvolvimento, como ainda o comprovam o número significativo de azenhas em ruínas, pontes romanas e fontes. Esta foi uma terra que, durante muito tempo, esteve sob o domínio da coroa (Reguengos eram as terras que, após a conquista, ficavam sob a administração do Rei; Coutos as terras que eram distribuídas ao Clero; Honras, as terras dos Nobres). Refere a lenda que D. Pedro e D. Inês também por aqui fizeram ninhos de amor... Entre as principais actividades económicas destacam-se a indústria de mármore, a pecuária, a carpintaria, a ferraria e a agricultura. Na gastronomia, o Reguengo Grande oferece o sarrabulho, a carne de porco frita, pão de milho com torresmos, coelho à caçador e carne de cabra à Cezaredas.

MOLEDO Esta freguesia, a mais pequena e menos populosa do concelho da Lourinhã, encontra-se localizada no planalto das Cesaredas. Constituída por um afloramento calcário da Era Jurássica, é uma das mais ricas sob o ponto de vista histórico, etnográfico e lendário do Concelho da Lourinhã. Moledo deriva da palavra latina MOLES, que significa Massa/Volume grande de pedra ou pedregulho desconforme, o que corresponde às características do solo onde a aldeia está implantada. O seu passado remonta à época romana como pode ser comprovado pelos dois pesos de tear, em cerâmica, encontrados nesta localidade. No entanto, a sua história está bastante marcada pelo desaparecimento do PALÁCIO ou PAÇO REAL, ligado ao PAÇO REAL da Serra d´EL-REI.
O perfume do amor mais famoso da história de Portugal, entre D.Pedro e D. Inês, ainda hoje se respira nas ruínas do palácio de Moledo. Não obstante, este é um facto histórico que não está confirmado mas que pertence à tradição popular. O palácio de Moledo, desabitado desde o século XVI, foi alvo de saque ao longo dos tempos, pelas populações vizinhas que não deixaram pedra sobre pedra. Hoje apenas é visível o local onde o mesmo se erguia, agora transformado em terrenos de cultivo. Aí subsiste um poço revestido de alvenaria onde se vislumbram pedaços de azulejos policromados que o decoravam e que se supõe que ficasse situado nos jardins do palácio. Restam também, ainda os muros que delimitavam a propriedade e uma banheira do Paço (junto ao paço da aldeia), onde, possivelmente D. Inês de Castro se deliciava nos deliciosos banhos. É tradição popular que, durante algum tempo terá residido D. Inês de Castro, o grande e desvairado amor de D. Pedro I (o Justiceiro), aquela que, como diz Luís de Camões “depois de morta foi rainha”, mandada assassinar por D. Afonso IV em 1355. (O túmulo em Alcobaça e a descrição que dele faz o Dr. Luís Rosa na seu romance histórico “O Amor Infinito de Pedro e Inês”, é digno de realce). Também se conta que, na povoação do Paço, na freguesia de S. Bartolomeu dos Galegos, quando D. Pedro por lá passava vindo da Serra d´EL-REI quando se dirigia a Moledo gritava “ aqui a passo” ou “passo”, (deixando os cavalos de vir a galope ou trote e passando a andar a passo), palavra esta que deu origem aquela pequena localidade. Andou também de boca em boca, durante vários séculos a lenda de que, D. Pedro para despistar seu Pai, D. Afonso IV e os seus espiões, para vir a Moledo ver a sua amada Inês de Castro, mandava virar as ferraduras do seu cavalo ao contrário, de modo a não dar pistas sobre o seu encontro amoroso. O que uma pessoa faz... quando se está verdadeiramente apaixonado... Em 1378, D. Fernando concedeu os primeiros direitos administrativos à localidade. A Igreja do Espírito Santo é um pequeno templo de arquitectura singela mas acolhedor. Com um alpendre frontal, ainda apresenta, no interior, um tecto quinhentista, com painéis de madeira decorados.
Dignos de menção são os magníficos azulejos do séc. XVII.
Infelizmente foi muito descaracterizada por obras realizadas ao longo dos tempos, até aos nossos dias. Principais actividades económicas: Agricultura e construção civil. Aqui se podem apreciar os caracóis à moda de Moledo, os peixinhos da horta, e o coelho à caçador.

S. BARTOLOMEU DOS GALEGOS Esta Freguesia, habitada por Celtas, Romanos, Visigodos e Mouros, remonta ao início da nacionalidade portuguesa. O seu padroeiro, S. Bartolomeu, apóstolo e contemporâneo de Cristo, é o Santo protector dos gagos. Sendo rica em pedreiras calcárias, além das actividades agrícolas, desde muito cedo atraiu, para os trabalho da pedra, vários povos entre os quais se destacam os Galegos, provenientes da Galiza, e que se encontram na origem do topónimo desta localidade. As “Oficinas de Canteiros”, sucessoras dos “Mestres” que trabalhavam a pedra na Idade Média, tinham um papel de relevo nesta localidade. A área territorial é composta por oito pequenos lugares, numa freguesia que tem poucos registos históricos. O lugar de Pena Seca (pequena aldeia pitoresca revestida a calcário e bem inserida no Planalto) é um dos locais que o PDM - Plano Director Municipal da Lourinhã, quer ver preservado, como de interesse turístico. Na Pena Seca é digna de ser visitada a Igreja de Santo António, pequena construção rural do séc. XVI com alpendre de três águas sobre a porta principal e alpendre aberto na frontaria e suspenso por duas colunas toscanas que nascem no murete do pequeno adro. A empena da frontaria é em bico, rematada por cruz de pedra, floreada. Nos espaços abertos do alpendre foram colocados gradeamentos. Na parede do lado poente e junto ao alpendre surge o campanário.
A capela é de uma só nave. No interior, a capela-mor é separada do corpo da Igreja por um arco cruzeiro sustentado por colunas toscanas.
No restauro realizado nos anos 40/50 foi retirado o retábulo que se encontra na sacristia, sendo o altar substituído por uma mesa de mármore
A Quinta da Moita Longa, localizada no Toxofal de Cima, da freguesia de S. Bartolomeu de Galegos, bela quinta seiscentista, com capela, encontra-se integrada na secular mata real.

Compilação de textos – Manuel Correia
Fotos - Jorge Melo

Comentários

  1. Já no fim do caminho, mesmo antes de uma bela patoscada, que ninguém estava à espera de tais iguarias!

    Um passeio muito agradável, para repetir, onde se fez de tudo, desde aprender até conviver!

    Excelente!!!

    António

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