63º Passeio Maio 2006



CHIQUEDA - “ Entre a água e as pedras "


No último domingo de Maio, na companhia de um sol tropical que pretende deixar rapidamente a Primavera e entrar com toda a pujança num Verão quente e agreste, sem qualquer chuva ou humidade, sessenta e cinco Caminheiros dos Pimpões fizeram-se à estrada por terras de Chiqueda, no concelho de Alcobaça, em parceria com a Casa da Cultura José Bento da Silva de S. Martinho do Porto.

Chiqueda, pitoresca povoação da freguesia de Aljubarrota, do Concelho de Alcobaça, inicialmente o local escolhido pelos monges Cistercienses para erigirem o seu primitivo Mosteiro, encontra-se localizada na planície verdejante onde, da serrania e através dos olhos de água, brota o rio Alcôa. Aqui desemboca o Vale da Ribeira do Mogo, encaixado em solos predominantemente calcários, que com as águas provenientes da depressão da Ataíja, mantêm o caudal permanente deste rio.
Estas antigas águas límpidas e cristalinas agradáveis à vista e ao espírito, sob a protecção de S. Brás, alimentavam outrora uma antiga e florescente indústria quer de moagem, quer de fiação de tecidos, representada ainda por inúmeros vestígios de azenhas, fábricas de fiação e tecidos.

Na origem do topónimo de Chiqueda poderemos considerar a lenda em que D. Afonso Henriques ao chegar a esse vale e achando o local propício para nele se instalar o Mosteiro, mandou parar a sua comitiva e terá proferido as seguintes palavras, “chiu ! Quêda! ou chio-quêda”, (queda de quedar, parar).

Sobre este assunto o jornal “A Voz de Alcobaça”, nº 15, refere: “D. Afonso Henriques saiu de Coimbra à frente de 250 homens e dirigiu-se para tomar Santarém. Segundo os frades Bernardos, ao chegar ao alto da serra de Albardos fez a promessa de que se chegasse a conquistar Santarém, doaria a D. Bernardo, o primeiro abade de Claraval e aos seus monges, todas as terras que se avistavam daquela serra até ao mar, prometendo também construir um famoso mosteiro para os frades da sua Ordem. D. Afonso Henriques atirou, do alto da Serra de Albardos, a sua lança, que foi cair em Chiqueda; mas ao ver que o local era impróprio, atirou-a segunda vez, caindo então no sítio que o rei seguidamente indicou para assento da grande Abadia.
Por ordem de El-Rei limparam o matagal e no terreno assim limpo estenderam cordas e medidas que os monges trouxeram com a determinação de que no dia seguinte se abririam os fundamentos, mas quando o quiseram fazer não acharam as medidas.
Considerando que o lugar não devia ser aquele, mandaram procurar as medidas por muitas pessoas e tendo El-Rei e os monges andado quase meia légua, encontraram a confluência de dois rios e aí perto acharam as medidas em tão boa ordem como se as pusesse algum oficial primo.(...)
Mandou El-Rei limpar o sítio de todo o género de mato (...) e mandou abrir os fundamentos da Igreja”.

A granja de Chiqueda, em meados do século XIV, devido ao facto de ser um vale protegido da geada e dos frio intenso de Inverno, produzia algumas das melhores laranjas da região.
Iniciando a actividade a partir da Associação Recreativa desta aldeia fundada em 1978, (onde neste dia uma equipa de saúde pública do Hospital de Alcobaça fez uma campanha de sensibilização para problemas cardíacos, colesterol e tensão arterial), os caminheiros percorreram lindos carreiros entre as nascentes do Rio Alcoa, Vale da Ribeira do Mogo (onde ainda podem ser identificadas cinco grutas onde foram encontrados vários vestígios pré-históricos), até ao sítio do Carvalhal.

As visita guiadas à capela de S. Romão, na Lameira, ao poço do Suão (com uma exsurgência de águas cristalinas espectaculares que brotam directamente da funda garganta) e à azenha velha, foram metas obrigatórias e imprescindíveis para se compreender a importância económico /social das diversas actividades industriais relacionadas com o Alcoa.
A capela de S. Romão é um pequeno templo bastante antigo, com arco de características manuelinas e portal com decoração da renascença, que está associado a um certo culto lendário. De facto, entre as várias tradições existentes não podemos deixar no esquecimento aquela que ainda agora traz as crianças a S. Romão, na Quinta –feira de Ascensão, para agradecerem todo o leite que o santo concedeu às suas mães aquando da amamentação.

Relativamente à avaliação do evento não podemos deixar de referir o testemunho de Clarisse Nascimento, uma das jovens caminheiras, “O passeio teve uma grande componente cultural e ambiental/geológico, devido à contribuição do Sr. Cipriano Simão e Dr.ª Antonieta. Toda a sucessão de fenómenos naturais que deram origem ao vale foi devidamente explicada e entendida por todos”. E acrescentou “apesar de estar um dia de calor intenso o passeio foi relativamente fresco!”.

Pelo fim da manhã, o 63º passeio pedestre dos Pimpões, com grau de dificuldade média (apesar do muito calor na segunda parte do percurso) e circular como os anteriores, concretizou-se em duas horas e trinta minutos, numa extensão de cerca de nove quilómetros.


Se deseja manter-se em boa forma física e com boa saúde, venha contactar com a natureza e conviver connosco no próximo passeio que se realizará no último domingo de Junho, à freguesia de Carvalhal Benfeito, desde o lugar de Santana até à Mata das Mestras. Haverá as abençoadas filhós acompanhadas do delicioso café da avó e também o almoço para os interessados.
O ponto de encontro será às nove horas, em frente aos Pimpões ou pelas nove horas e vinte minutos, junto à sede da Associação Cultural de Santana.



Texto – Manuel Correia
Fotos – Ana Sousa Santos e Jorge Melo

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