1ª Marcha Nacional maio 2005

1ª Marcha Nacional + 49º passeio abril 2005



“JUNTO À LAGOA, COM O MAR ALI TÃO PERTO”.

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Vieram de Coimbra, Fafe, Cova da Piedade e Lisboa, ao encontro do Grupo de Caminheiros dos Pimpões, animados pela mesma paixão de desfrutar a natureza sem a perturbar. Cerca das 9h:30m, no Parque de Campismo da Foz do Arelho, reinava a agitação que antecede os grandes momentos, com cada um dos cerca de cem caminheiros a receber da organização uma mochila com instrumentos de sobrevivência – uma caneca para a água, uma t-shirt ou um boné para o sol – e folhetos de divulgação turística cedidos pelas câmaras de Caldas e de Óbidos. Às dez horas em ponto, iniciou-se a caminhada, que se desenvolveria por dezoito quilómetros, com início num trilho pela mata, em fila indiana entre fetos e tojos que surpreenderam alguns caminheiros incautos de perna ao léu, sem arranhões dignos de registo. Às dez e trinta, o primeiro contacto visual com a Lagoa, lá ao longe, para onde o grupo se dirigiu, com passagem pelos vinhedos da Quinta da Barrosa, e pelas hortas dispersas que aqui e além interrompem a paisagem de mata, com pausa para abastecimento de água pelas 11h:10m, junto da carrinha da organização. Já passava do meio-dia quando os caminheiros chegaram ao parque das merendas, onde foi servida uma refeição ligeira, num local privilegiado de onde avistaram finalmente toda a beleza suave da Lagoa, que ali se desenvolve como um imenso espelho de águas tranquilas que reflectem tudo o que as rodeia. Prolongando-se ao longo de seis quilómetros, com dois braços: o da Barrosa a norte, e o do Bom Sucesso a sul, é a maior do país, mas já foi mais longa e mais profunda, estendendo-se em tempos recuados, desde o mar até ao sopé da colina onde se ergue a Vila de Óbidos. Há mesmo quem afirme, que contornava essa colina e ia banhar a antiga cidade romana de Eburobrittium, localizada em 1994, com os trabalhos de construção do IP6 e do IC1, que terá nascido no final do séc. I a.C., e sobrevivido até à segunda metade do século V d.C., sede de um imenso território que se estendia por uma área que confinava com as civitas de Collipo (Leiria), Scallabis (Santarém) e Olisipo (Lisboa). Com o tempo, foi recuando para o mar, deixando espaço livre para os pescadores que viviam nas suas margens e se converteram à agricultura. Tal como hoje, o persistente assoreamento que temporariamente a isolava do mar, foi sempre dramática preocupação das populações que dela viveram, como o certifica uma carta régia de D. João I, apelando ao povo de Atouguia, Cadaval e “Coutos Velhos”, no sentido de ajudarem os obidenses nas tarefas necessárias à reabertura, havendo registo da apresentação dessa questão pelo concelho de Óbidos, às Cortes de Évora de 1460, convocadas por D. Afonso V, em que foram estipuladas multas para quem não prestasse o auxílio exigido, mais tarde confirmadas por D. Manuel I. Em tempos recuados, eram muito mais caudalosos os rios que chegavam à Lagoa, particularmente o Rio Arnóia, onde se praticava a pesca do sável, sobre a qual incidia um tributo de um ceitil, para o alcaide-mor do Castelo de Óbidos. Devido a esse caudal, quando a areia fechava a Lagoa, isolando-a do mar, os campos inundavam-se, causando graves prejuízos à agricultura que se praticava nas margens, havendo notícia de um costume imemorial, relatado num documento de 1610, que consistia na convocação das povoações dos arredores, através do toque do sino da torre do relógio, logo que se tornava intransponível a areia que se acumulava entre a Lagoa e o Oceano. Também a lenda paira sobre as águas da Lagoa, relativamente à “Poça da Ferraria”, e à “Poça da Cativa”, existentes na braço sul, dizendo a tradição, que, a denominação da primeira se deve ao facto de ali ter existido uma forja no tempo dos Mouros, e da segunda ao aprisionamento no local de uma princesa moira pelos combatentes cristãos. Reabastecidas as energias, após ouvirem breves e oportunas explicações sobre a história e a geologia do local, os caminheiros fizeram-se à mata, quando o sol já fustigava e as sombras eram locais preciosos, gratos por novo abastecimento de água e fruta, quando vislumbraram a carrinha dos Pimpões, ancorada, como sempre, em local estratégico do caminho, que já ia longo. E eis novamente a Lagoa, vista desta vez num trilho junto à margem, por onde em fila indiana seguia o grupo, deslumbrado com tanta beleza e frescura, enquanto alguns caminheiros mais bem equipados, perscrutavam com binóculos o voo suave dos patos e dos flamingos sobre as águas. Junto à margem, acumulavam-se limos que antes eram recolhidos para fertilizar as terras, sendo visível a baixa profundidade das águas, provocadas pela sedimentação das areias que tendem a isolá-la do mar, e da vida, com risco para as espécies piscícolas que desde sempre alimentaram as povoações das margens, como o robalo, a enguia, o linguado e a tainha, e os moluscos bivalves como a amêijoa, berbigão e mexilhão. Talvez se adivinhe o seu fim, perante a passividade de quem a poderia salvar, mas continua envolta naquela beleza suave e misteriosa, testemunhada pelos caminheiros, que entretanto, já um pouco cansados da longa caminhada e de tantas emoções, pelas dezasseis horas regressavam ao ponto de partida. Seguiu-se um jantar antecipado para as dezassete horas, no Centro Social e Recreativo da Foz do Arelho, servido por umas senhoras simpáticas, que quase estragavam com mimos quem chegava da longa caminhada, repasto que os caminheiros saborearam agradecidos à direcção feminina daquela instituição, impecavelmente coordenada pela dinâmica presidente – Amélia Silva. Houve caminheiros incautos que não resistiram a repetir a excelente sopa de peixe, para descobrirem mais tarde que faltava espaço para o berbigão de cebolada, molusco rei da lagoa, prato típico da zona. Já as sobremesas iam no fim, quando subiu ao palco o Grupo de Dança da Moita de Alvorninha, momento de cor e música, que antecedeu a entrega pela organização dos Pimpões, de recordações da caminhada às instituições que estiveram presentes: Clube de Campismo de Coimbra, Clube Ibérico de Montanhismo e Orientação da Cova da Piedade, e Restauradores da Granja de Fafe. Terminava assim um dia que há-de perdurar por muito tempo na memória dos caminheiros, que na hora da despedida falavam já de nova aventura, desta vez ali para os lados da Cela Velha, no dia 29 de Maio.

Carlos Marques
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» 49º PASSEIO ABRIL 2005



“À descoberta das várzeas e de outros recantos de Salir de Matos”

No dia 24 de Abril, o Grupo de Caminheiros dos Pimpões cumpriu a sua 49.ª caminhada de descoberta e divulgação das paisagens e da história das nossas aldeias. Apesar da chuva que caiu durante a noite, e que ameaçava continuar pela manhã, 58 caminheiros rumaram a Salir de Matos, à descoberta dos lugares recônditos, onde paira ainda o mistério dos antigos bosques que deram o nome à terra. O local de encontro escolhido para o início da caminhada, não podia ter sido mais sugestivo: uma sala de exposição permanente de pinturas da autoria de José Sobrinho, onde poisa em pinceladas coloridas, toda a bicharada que circula na região, apresentada pelo autor aos caminheiros, entre dois dedos de conversa e um saboroso “café da avó”. Depois partimos à descoberta da terra que, segundo crónicas antigas, deve o seu nome à imensa mata de sobreiros que se estendia pela margem norte do Rio de Salir, até ao porto de Alfeizerão, cerrada e densa como a noite, salvo numa clareira em que se cruzavam três caminhos, onde o viajante suspirava de alívio por sair do mato. Por essa razão se chamou Salir do Mato, que foi vila e concelho dos coutos de Alcobaça, terra inóspita, quase despovoada quando recebeu a primeira carta de povoação, outorgada por Frei Martinho III, Abade de Alcobaça, no início do longínquo século XIII, confirmado em foral do Rei Venturoso em 1514, que lhe chamou «Sellir do Mato», e que rezava assim: «… no dito lugar por ser despovoado não se levam ora outros mais direitos (…) mas ficará em liberdade do mosteiro poder levar nele outros tantos e tais direitos (…) quando se povoar…». De acordo com o Cadastro da Estremadura de 1527, tinha esta vila «uma légua em largo e em redondo», partilhada naquela data por dezasseis vizinhos, cinco no corpo da vila, quatro na aldeia das Trabalhias, dois em Barrantes e cinco dispersos pelos casais do Guizado, do Infante e da Feteira. Há registos de um filho ilustre, monge cistercense identificado como “Frei Xisto do Salir”, teólogo do Convento de Alcobaça, de reconhecida autoridade, autor da obra “Vidua Sereptona Moraliter Explanata”. Foi esta terra povoada pelos Romanos, como o comprova uma lápide funerária descoberta pelo pároco no ano de 1780, com a inscrição: “…Aqui jaz Sulpicia natural de Colippo (Leiria) irmã de Calleco…”. Destruídos pela voragem do tempo, poucos testemunhos restam da sua longa história, sendo ainda localizáveis os lugares onde existiu uma pousada dos monges de Alcobaça, os edifícios da câmara e prisão, bem como uma forca que deu nome ao lugar sobranceiro à antiga vila. Apesar da escassez de vestígios do passado, puderam os caminheiros viajar no tempo, com recurso a alguma imaginação, quando se depararam com o imenso vale por onde corre o rio Tornada ou de Salir, que durante séculos separou as terras dos coutos da Abadia de Alcobaça das do termo de Óbidos, e que no século XV era navegado por barcos carregados de produtos agrícolas, desde o porto fluvial que existiu no Formigal, até ao mar de Salir, onde desagua. Grande parte do percurso foi feito por entre arvoredo, a recordar o tempo em que a antiga vila era uma clareira em que se cruzavam três caminhos, onde o viajante suspirava de alívio por sair do mato. Outra parte foi nas várzeas e pomares, por entre hortas verdejantes e árvores floridas, quando a chuva deixava de ser uma ameaça, e o sol da Primavera obrigava os caminheiros prevenidos, a despirem os casacos de Inverno. Ali para os lados do Vale da Quinta, ouvimos cantar o cuco, e alguns caminheiros contaram o dinheiro que traziam, preocupados com os maus presságios da tradição. Nos pinhais que atravessávamos, sucediam-se caminhos recônditos, secretos, com tapetes de caruma, onde os caminheiros, puderam sentir a magia dos antigos bosques que deram o nome à vila, agradecidos aos dois guias que previamente os descobriram – Manuel Correia e José Manuel. À chegada, bastou aos caminheiros esfaimados, seguir o aroma dos grelhados, para descobrir uma enorme mesa posta, na boa tradição da hospitalidade da terra, o que só foi possível pelo trabalho e empenho das pessoas a quem se presta aqui público agradecimento: Maria de Lurdes Gomes, Isabel (do Jardim de Infância do Carvalhal), Maria José Gomes, Maria José Gil, Bia, Júlia (do Restaurante Lagar), José Sobrinho e Luísa Feliciano. Logo a seguir à sobremesa, com o acompanhamento de uma viola dedilhada a preceito, recordaram-se velhas cantigas, e foi em ambiente de festa que terminou a 49.ª caminhada dos Pimpões.


Texto – Carlos Marques Imagens – José Sobrinho e Jorge Melo

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