Fevereiro 2005




"A PROCURA DA MOURA ENCANTADA"

Os Caminheiros dos Pimpões, no último domingo do mês de Fevereiro, escolheram o lugar de Mata de Porto Mouro (ou Moiro), na Freguesia de Santa Catarina, para usufruir dos segredos, lendas e encantos desta aldeia e concretizar mais uma das suas actividades, o 45º passeio pedestre. A aldeia distribui-se por um planalto, ladeado a Norte e Sul por dois vales, onde serpenteiam os ribeiros Pantaleão e Louriceira. O casario, desenvolve-se ao longo da estrada, com cerca de dois quilómetros, que liga o lugar às localidades das Antas, Ribafria e a Vila de Santa Catarina. A História / lenda de Mata de Porto Mouro perde-se no tempo, talvez na época da reconquista cristã (Séc. XI, XII), não sendo, no entanto, do nosso conhecimento, a existência de qualquer documento que comprove esta afirmação.
Procurando explicar o topónimo desta localidade, poderemos afirmar que o nome Mata está associado à reserva florestal dos antigos coutos de Alcobaça, referenciada em alguns documentos dos Séculos XIV e XVI, como uma coutada, revestida de sobreiros, castanheiros e carvalhos entre outras espécies autóctones. Esta coutada, reserva de caça dos Monges Brancos (designação como também eram conhecidos os Monges de Alcobaça), aparece referenciada na Carta de Povoamento de Santa Catarina, de 4 de Fevereiro de 1307, por parte do abade de Alcobaça, e mais tarde no FORAL da mesma Vila, outorgado pelo Rei D. Manuel I, em 1514, nos seguintes termos: “(...) a lomba do pauy da mata e de lo porto do mouro atee o bajro da fuguei «ra», Saluo que deram de graça aos ditos moradores que criem seus gaados de as cryança com os seus na dita coutada que se chama a lomba de pauy da mata.” – Luís Nuno Rodrigues, Forais de Santa Catarina, pág. 49. Boa parte das terras englobadas no termo da póvoa de Santa Catarina (concelho até ao século XIX), estavam ocupadas com floresta, que se estendia pelo concelho de Salir do Mato e de Alfeizerão, de que sobreviveu até aos nossos dias a mata das Mestras. Os seus primeiros habitantes, pelo conhecimento trazido pela tradição oral e confirmado pelo Sr. António Rocha (também conhecido por Galiás) e esposa D. Francelina Jesus Paulo, ambos com 80 anos de idade, (avós do futuro Sacerdote desta aldeia, Padre Filipe Rocha Santos, que será ordenado no dia 26 de Junho de 2005), terão sido os mouros. Actualmente, há uma zona desta localidade, formada por várias propriedades agrícolas, denominada “Fonte da Moura”, onde, provavelmente, terá residido a lendária Moura encantada, cuja “casa” seria uma mina, que ainda hoje subsiste e transmite o magnetismo da sua energia! Conta-se também que, há poucas décadas atrás, nas manhãs orvalhadas e frias e ao nascer do Sol, se vislumbrava, com muita frequência, a roupa branca da moura estendida pelos campos verdejantes e cultivados. Quando alguém se aproximava, repentinamente, a roupa desaparecia... A palavra Porto, estará associada ao ribeiro Pantaleão ou ao ribeiro da Louriceira, navegáveis naquela época.

No entanto, é mais provável que a ligação deste topónimo esteja associado à ribeira da Louriceira, devido à existência de alguns pólos industriais que se localizavam nas suas margens, nomeadamente azenhas e lagares, que aparecem associados a algumas explorações agrícolas com uma certa dimensão para a zona, tais como a Quinta da Louriceira. Sabemos também que, ainda no Século XVI, existia um porto fluvial, bem perto, no Formigal (junto à Torre e Casais da Areia), através do Rio de Tornada, que tem a ribeira da Louriceira como afluente.
Deveria ser por aqui a circulação de pessoas e o transporte de madeira, da densa floresta existente. Entre o seu património construído, destacamos a capela dedicada a Sto. António, inaugurada em Abril de 1994, cujo padroeiro se celebra no primeiro domingo de Junho, a eira (parabéns pela sua recuperação) e o moinho de vento do falecido Manuel Henriques, em estado avançado de degradação, um antigo relógio de sol, além de algumas casas de habitação dos princípios do século XX. Do seu passado recente e relacionado com as actividades económicas da localidade, são recordadas com saudade as azenhas de Fernando Papa, de Manuel Henriques, dos Borgas e o moinho de água de José Paulo (mais conhecido por José Neves), assim como os lagares de azeite de António Ribeiro e o de Francisco Henriques.

Projectando-nos no passado, podemos recordar os pachorrentos carros de bois e carroças puxadas pelos teimosos jumentos, os trabalhos rurais feitos com técnicas artesanais e instrumentos específicos para as colheitas, como o malho e o trilho, utilizados nas eiras para afastar os cereais da palha, ou para retirar os legumes secos das suas vagens. Os cheiros característicos da azeitona e do bagaço das uvas, no início do Outono e os sons emitidos pelos trincos das prensas, nos lagares de vinho que, saltitando numa cadência musical, também nos recordam velhos tempos e uma orquestra rural! Desfrutando-se da beleza da paisagem e caminhando por trilhos, carreiros e estradas tradicionais, atravessam-se campos cobertos de flores e pomares bem cultivados de pessegueiros, pereiras e macieiras. Nos ramos mais sombrios, os pássaros chilreiam de leve ou voam à nossa passagem, tais como as alvéolas, os bicos de lacre, as carriças, os estorninhos, os pintassilgos, os melros, entre outros. Terra agrícola por excelência, as suas características têm permitido ao longo dos tempos a alternância na produção de cereais, vinhedos, olivais e pomares, de forma a proporcionar aos agricultores alguns rendimentos e uma certa qualidade de vida.

Devido aos bons acessos e à localização desta aldeia, parece ter parado a desertificação das populações jovens, que têm procurado na cidade de Caldas e na Vila da Benedita, novas vidas e oportunidades. De facto, novas moradias surgem cada ano que passa, dando uma certa animação e desenvolvimento à terra. O grupo formado por cerca de sessenta pessoas, ansiosas por exercício físico, espírito de aventura e camaradagem, percorreu os oito quilómetros previstos para a etapa do dia, num percurso circular como os anteriores, em cerca de duas horas.

À Associação Recreativa, Cultural e Desportiva, fundada a 8 de Dezembro de 1978, local de divulgação cultural associado a amenas cavaqueiras, e ao Luís Paulo, Presidente da Direcção, um dos promotores e dinamizadores deste passeio, e ao grupo das filhós e cozinheiras do almoço, deixamos expressos os nossos agradecimentos.


Texto – Manuel Correia Fotos – Ana Sousa Santos e Jorge Melo

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