56º Passeio Outobro 2005



Pela " VESTIARIA MANUELINA "

Os dias chuvosos de Outono aproximam-se pouco a pouco e o Verão seco e agreste já lá vai... A hora também mudou, mas apesar das condições climatéricas pouco favoráveis a passeios pedestres, um grupo de trinta e cinco caminheiros corajosos e aventureiros compareceu no largo da Igreja Matriz da Vestiaria, (uma das dezoito freguesias do concelho de Alcobaça), no último domingo de Outubro, concretizando, assim, o 56º passeio pedestre dos Pimpões. No século XVI, esta localidade começou por ser conhecida por “Vila de S. Bernardo”, destinada a albergar a população, que se encontrava de forma desordenada junto aos muros da cerca do mosteiro. De facto, a História de Portugal e a história dos coutos são um caminho cruzado! A explicação do seu topónimo poderá estar associado à divindade greco / romana “ Héstia ou Vesta” (deusa do fogo sagrado), atendendo a que outrora neste local, devido à sua altitude, existiam fachos ou faróis que orientavam os navegantes que se deslocavam nas águas cristalinas do Atlântico. Outra hipótese para tentar explicar o nome poderá estar associada à confecção da indumentária (roupa do dia a dia ou paramentos para os actos litúrgicos, como o pode comprovar a colecção existente no pequeno museu local). Aqui residiriam os alfaiates /costureiros(as) dos monges brancos do Mosteiro.

O passeio pedestre, com a extensão de oito quilómetros e circular como os anteriores foi orientado pelo Presidente da Casa da Cultura José Bento da Silva de S. Martinho do Porto, Sr. Cipriano Simão, e começou à hora habitual, nove horas e trinta minutos, com uma visita guiada ao templo cristão, classificado como Monumento Nacional. A Igreja matriz mandada edificar pelo abade D. Jorge de Melo, em 1506, embora sem altar-mor, a sua capela manuelina alberga a lindíssima imagem seiscentista de Nª. Sª. da Ajuda, padroeira da freguesia. O pórtico manuelino radiado surge como um dos testemunhos mais fiéis deste movimento arquitectónico. De facto, a deslumbrante moldura de pedra, que chama a atenção dos crentes para o interior da igreja, recorre a uma gramática artística em que se podem identificar diversos elementos naturalistas, extremamente interessantes, (folhas de louro, videiras, cachos de uvas, maçarocas, romãs, alcachofras), elementos marítimos (cordas, bóias, conchas, monstros) e símbolos nacionais (esferas, cruzes). (Numa tarde cultural de lazer ou fim de semana, recomendamos uma visita a este património e a identificação dos elementos arquitectónicos referidos). Em anexo a este templo, queremos chamar a atenção e dar os parabéns aos responsáveis pela iniciativa, encontra-se um pequeno museu que reúne algum espólio museológico associado ao culto religioso, nomeadamente cruzes, quadros, paramentos, (a que aconselhamos uma visita). Ainda no início do percurso e em direcção ao vale frondoso que conduz às termas, fez-se uma pequena paragem junto à Sociedade Filarmónica Vestiariense Monsenhor José Cacella, fundada em 1906 por dissidentes da Real Fanfarra de Alcobaça. Esta instituição foi dirigida por este patrono até à sua fuga para o Brasil, aquando da implantação da República a 5 de Outubro de 1910, (a Lei da Separação do Estado da Igreja, teve como consequência imediata a expulsão das ordens religiosas e a nacionalização dos seus bens patrimoniais), e, mesmo no exílio, o pároco não esqueceu o apoio que a população lhe concedeu durante as perseguições e enviou generosas dádivas para a colectividade. A Orquestra Filarmónica tem recebido diversos prémios que atestam a qualidade do seu ensino e a Instituição tem sido um pilar fundamental na formação musical dos jovens, dando origem a grandes valores profissionais que actuam nas mais diversas orquestras e grupos musicais do país. O seu primeiro maestro foi o senhor José Filipe e, mais tarde, o seu filho Joaquim Filipe aos quais sucederam outros, oriundos de bandas militares. O Sr. Marques Figueiredo impulsionou a fundação da Escola de Música.

Após a descida pelo “Vale do Rio Alcobaça”, onde ainda vigora a tradicional floresta portuguesa formada por carvalhos, sobreiros e medronheiros, entre outras espécies autóctones, sob o efeito de alguma chuva intercalada com o chilrear da passarada protegida de vistas pelos matos e carrascos, chega-se às Termas da Piedade. O nome destas Termas provém de uma antiga capela dedicada a Nª. Sª. da Piedade, actualmente remodelada. A data da sua fundação não é conhecida. No entanto, pensamos que os Romanos, residentes em Parreitas, já fossem conhecedores deste local e usufruíssem dos bons resultados das águas, (doenças do aparelho digestivo, da pele, reumáticas e músculo - esqueléticas). Actualmente o balneário encontra-se fechado devido à contaminação das águas (flagelo que ultimamente também tem atingido as águas do Hospital Termal das Caldas da Rainha). Todavia, a unidade hoteleira encontra-se em funcionamento, com algumas valências de turismo e lazer ao serviço dos seus clientes.

Na Vestiaria, entre as principais actividades económicas, além do turismo, destaca-se a fruticultura e a cerâmica decorativa (em barro branco). Entre as suas festas e romarias é de realçar a homenagem a Nossa Senhora da Ajuda, a 8 de Setembro, e a Santo António, a 28 de Setembro.

Texto – Manuel Correia e Cipriano Simão Fotos – Ana Sousa Santos e Jorge Melo

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