Janeiro 2005




" À volta da TRABALHIA comemorando o S.Braz"

No último domingo de Janeiro, como reza a tradição há cerca de quatro anos, o lugar da Trabalhia, da freguesia de Alvorninha, localizado junto à estrada real que liga Caldas da Rainha a Rio Maior, (antiga estrada que fazia a ligação entre Peniche e Santarém), terra de gente afável, hospitaleira e dedicada, foi o local escolhido pelos caminheiros dos Pimpões (cerca de sessenta participantes), para realizar o seu quadragésimo sexto passeio pedestre.

O topónimo desta localidade, segundo opinião de alguns dos seus residentes, poderá significar “trabalho ou ao trabalho ia...” denominação associada ao arroteamento, desbravamento e povoamento de antigas terras pertencentes à Ordem Cisterciense, de Alcobaça (religiosos conhecidos por monges brancos). D. Sancho I, concedeu, em 1210, Carta de Foral ao concelho de Alvorninha, tendo confirmado o acto, uma testemunha residente neste lugar - Fernandus Suaius. No Século XVI, em 1527, a aldeia da Trabalhia, aparece associada ao Casal de Gibraltar (o actual Casal do Chiote?), surgindo também referenciada no recenseamento de D. João III, juntamente com as onze localidades indicadas no documento, com uma população total de108 vizinhos (entre 378 a 486 habitantes). Os seus padroeiros, Santa Maria e S. Brás cuja festa se celebra a 2 e 3 de Fevereiro, que também são santos protectores do lugar das Antas, (outra das localidades desta freguesia e do Carvalhal Benfeito, cuja festa se celebra no mesmo dia), encontram-se num templo bastante antigo, restaurado em 1998 e datado possivelmente do Século XVII. S. Brás, conhecido como o advogado protector dos engasgos e das pessoas com problemas de garganta, foi bispo de Sebaste, na Arménia, no século IV. Reza a história que, durante as perseguições aos cristãos, movidas pelo Imperador Constantino, uma senhora cujo filho morria engasgado com uma espinha na garganta, passou a sua mão sobre a cabeça da criança e, implorando simultaneamente a ajuda de S. Brás, o milagre terá acontecido... Sobre a edificação deste templo há uma pequena história que o Sr. Armando Pereira, de sessenta e oito anos, nos relatou: “A construção e a orientação desta capela esteve associada a uma grande polémica. Alguns moradores pretendiam a capela virada para os lugares santos de Jerusalém; assim de noite, os outros residentes que pretendiam que o seu lugar de culto estivesse orientado para Roma, faziam a demolição da obra para que os seus objectivos fossem conseguidos. E assim, sucessivamente, mês após mês, as obras da capela se iniciavam e eram demolidas... ”. A orientação actual do altar não permite concluir claramente qual dos dois grupos venceu a polémica.

O tecto da capela de caixotões de madeira, actualmente modificado, tinha representado quatro painéis relacionados com cenas bíblicas. Destes, actualmente, só resta uma fracção do antigo, que se encontra encaixilhado no interior do templo. No tecto da Capela Mor, existia também um fresco sobre “o Pai Eterno”. De todos os lugares visitados e percorridos pelos caminheiros, queremos destacar o Casal Frade, terra onde provavelmente terá morado Frei Cristóvão de Alvorninha, teólogo, escolástico e escritor, um dos Delegados do Convento na administração dos coutos. Segundo a tradição, este frade (ou possivelmente um Irmão Converso?) terá vivido na residência da família Raimundo, actualmente propriedade do Sr. Fernando Norberto. A aldeia tem uma capela dedicada a Nossa Senhora da Glória, inicialmente um pequeno ermitério do frade, onde se refugiava do mundo para se dedicar às suas devoções.

Sobre os fontanários ainda existentes na terra, queremos destacar o chafariz da antiga DEL (Direcção de Estradas de Leiria) construído em 1882. A fonte da Trabalhia, destruída e tapada pelo alargamento da EN 114, hoje encontra-se restaurada e integrada num aprazível parque de merendas, inaugurado em Outubro de 2003. Sobre o património construído, não queremos esquecer também a Escola Primária, edifício dos anos 60 (1962), da época do Estado Novo e hoje frequentada por apenas sete alunos (na eminência de vir a fechar pois é necessário ter o mínimo de dez para se justificar o seu funcionamento). Ainda se mantém na aldeia, além de um relógio de Sol, uma casa centenária, com cantarias de madeira, arquitectura já rara nesta Região Oeste.

A Quinta das Quebradas, local onde os frades recebiam os impostos pagos em géneros (impostos que tinham o nome de quebradas), merece também um olhar mais atento. À Associação Desportiva Cultural e Recreativa da Trabalhia, fundada em 14 Outubro de 1982, queremos enviar os nossos agradecimentos, principalmente ao seu Presidente, Sr. Orlando Leal, pela dinamização de mais um passeio pedestre (circular e com a extensão de oito quilómetros) e pelos belos manjares que foram proporcionados, quer no momento da recepção (filhós e café d’Avó), quer no delicioso e variado almoço, que bem retemperou as energias!

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Novo Ano novo blog

67º passeio Outubro 2006

94º Passeio Maio 2009