51º Passeio Maio 2005
“ Pelos campos de Cela a Velha ”
O lugar de Cela a Velha, do Concelho de Alcobaça, no último domingo de Maio, foi o local escolhido pelos caminheiros dos Pimpões, em parceria com a Casa da Cultura José Bento da Silva, de S. Martinho do Porto, para realizarem o quinquagésimo primeiro passeio pedestre. Os caminheiros partiram do largo da Estação dos Caminhos de Ferro e dirigiram-se ao “Casal do Outeiro”, onde a D. Manuela Leonardo, viúva de José Madeira das Neves, operador de som da antiga “Emissora Nacional”, nos apresentou uma invulgar colecção de “Máquinas falantes”, constituída por rádios antigos, gramofones, fonógrafos, grafonolas, mesas de mistura, telefones, discos e outros materiais de um incalculável valor. Estas peças museológicas, segundo a vontade da sua proprietária, deverão ser expostos numa casa - museu a criar na localidade, património este de que é urgente uma intervenção correcta por parte da Câmara Municipal de Alcobaça. De seguida, os caminheiros visitaram a sede do Rancho Folclórico e Etnográfico Papoilas do Campo, o mais antigo rancho do concelho de Alcobaça, fundado em 1954, antiga fábrica de guano e posteriormente de rações. Como resultado das recolhas de usos e costumes na região, realizadas nos seus primeiros tempos, o grupo possui grandes conhecimentos da etnografia local, o que se torna visível nos seus trajes e no pequeno núcleo museológico composto por diversas peças e alfaias agrícolas. Tentando explicar o étimo da palavra Cela poderemos afirmar que a palavra deriva do étimo latino “Calla ou quelha”, que significa antigo caminho ou estrada romana, que percorria toda a zona costeira e que fazia a ligação entre Lisboa e o Norte do País. Todavia este topónimo pode ter outras origens, podendo estar associado a uma “cela” mandada edificar por um grupo de religiosos, na sua fuga à invasão moura(...), associado a um local de refúgio para as pessoas punidas ou sentenciadas pela lei ou como localidade formada por pequenas casinhas emparedadas, onde se encarceravam as mulheres. Esta argumentação é defendida por uma lenda popular do século XIV, aquando da Batalha de Aljubarrota, segundo a qual uma costureira de fardas do exército português se teria emparedado por causa da morte de um soldado, da Ala dos Namorados, por quem se apaixonara. Com o desgosto viveria “reclusa ou emparedada, sendo alimentada por pessoas que vinham de uma localidade próxima – a Bica – e que lhe traziam mantimentos” segundo Iva e Frederico Delgado, na obra “Memórias da Vila da Cela”, pág.18. Afirmam ainda estes autores que o topónimo pode também estar associado à permanência naqueles lugares de um monge que habitava numa pequena cela. A história desta localidade perde-se no tempo, possivelmente da época da fundação da nossa nacionalidade, sendo um posto avançado de valor estratégico na defesa da costa. Situada nas margens da antiga lagoa da Pederneira, nas suas imediações existiu a Torre de D. Framondo, torre medieval, que vigiava a entrada nas águas da lagoa. Neste local existiram várias quintas, antigas granjas dos monges de Alcobaça, das quais resta a Quinta da Cela Velha, uma das granjas mais antigas da região, com a primeira carta de emprazamento de 1431, propriedade da família Andrade e Gamboa desde 1571. Localizada num dos montes ribanceiros, com capela dedicada a S. Bento e rodeada por toda uma enorme extensão de várzeas formadas por excelente terrenos agrícolas, pertence actualmente à Sra. D. Maria Iva Andrade da Silva Delgado de noventa e sete anos, viúva do “General sem medo”, que muito carinhosamente nos recebeu. É no Século XX que as obras de drenagem e enxugo dos terrenos se processou, numa acção conjunta entre o Estado e os lavradores locais, na construção de uma estação de bombagem, em 1939. Associado a esta terra não podemos deixar de recordar o ilustre General Humberto Delgado, filho adoptivo de Cela a Velha e falecido em condições trágicas em resultado da actividade política em 1965. Para que as gerações vindouras o recordem, os habitantes deste lugar, em 1976, edificaram um notável monumento em sua honra, simbolizando a luta contra o obscurantismo e humilhação provocado pelo sistema totalitário salazarista. O seu arquitecto foi Artur Rocha e o escultor José Aurélio. O grupo, formado por cerca de setenta pessoas, amantes da natureza e em boa forma física, percorreu os dez quilómetros propostos em duas horas e trinta minutos, num ambiente agradável e relaxante, em contacto com a natureza.
Texto – Manuel Correia e Cipriano SimãoFotos – Ana Sousa Santos e Jorge Melo
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