57º Passeio Novembro 2005
Panorâmica da Serra do Bouro
Os dias chuvosos de Outono continuam. O GRUPO DE CAMINHEIROS DOS PIMPÕES, apesar das condições climatéricas adversas a passeios pedestres, mas favoráveis a estradas enlameadas e escorregadias, conseguiu reunir, nas encostas da Serra do Bouro, cerca de sessenta e cinco pessoas no último domingo de Novembro. O 57º passeio pedestre, com a extensão de nove quilómetros e circular como os anteriores, foi efectivamente concretizado. A Freguesia da Serra do Bouro, é uma das mais antigas do concelho das Caldas da Rainha. Tem o privilégio de se encontrar situada junto à costa marítima e na sua zona ocidental podemos desfrutar de uma magnífica paisagem, tanto para nascente como para poente. Contrariamente ao que acontece na quase totalidade das freguesias portuguesas com um lugar como sede de freguesia, aqui não existe nenhuma povoação denominada Serra do Bouro.
Formam esta freguesia os lugares da Espinheira, a Cidade, os Casais da Cidade, a Boa Vista, o Cabeço da Vela e o Zambujeiro. O próprio “Bouro” é apenas o nome de um sítio que serve de apeadeiro aos Caminhos de Ferro Portugueses e que pertence à freguesia de Salir do Porto. Sobre a História desta localidade, apenas sabemos que no século XVI foi habitada por uma família de apelido Veigas, oriunda de Terras de Bouro (Minho), e que aqui construiu uma quinta no lugar de Espinheira, com capela (possivelmente hoje a igreja matriz). Esta Igreja, dedicada a Nossa Senhora dos Mártires, é um templo de cunho rural do séc. XVI, e está associada a uma interessante lenda que diz o seguinte: “A imagem de Nossa Senhora apareceu próximo do mar, a pouca distância da igreja, entre duas rochas, de onde saiu água dotada de virtudes terapêuticas, passando este local a ser conhecido como Fonte Santa…”. Junto a este pequeno templo há dois marcos históricos que não podemos de deixar de referenciar: o primeiro é o Brasão, com as armas da família dos Veigas, com três elevações em forma de montanha (talvez porque o Bouro é uma serra montanhosa), três fitas em forma ondulada (simbolizarão as ondas do mar, atendendo a que é a freguesia do Concelho que confronta com a maior orla marítima), e três torres do Castelo, na parte superior, que simbolizam a localidade (as cidades têm cinco torres, as vilas têm quatro e as aldeias têm três).
O segundo ponto extremamente interessante é o Cemitério dos Ingleses, onde repousam os restos mortais de várias vítimas do naufrágio do barco inglês ROUMANIA, ocorrido em 1892. O barco naufragou junto ao Gronho (a barra da entrada da Lagoa e Óbidos), mas os corpos apareceram ao longo da costa. Naufragaram cerca de duas centenas de pessoas. Parece que este barco é o que se encontra afundado à entrada da barra da Lagoa de Óbidos, cujos mastros são visíveis na baixa mar, principalmente quando há marés vivas.
No cemitério podem ser vistas seis lajes escritas em inglês que guardam os corpos dos ingleses mais ilustres e que recentemente foram colocadas no topo Leste do cemitério. Há outros corpos de náufragos aqui enterrados mas não têm lápide. Houve outros que deram à costa e que foram enterrados em Famalicão, Óbidos, Vau e Peniche. Até há poucos anos, o cemitério dos ingleses estava separado do cemitério dos católicos, porque eram protestantes. Outrora, na mentalidade do povo, era assaz importante que os mortos de religiões diferentes não se misturassem. A carga do navio era essencialmente constituída por chitas e fazendas, além de máquinas de costura. Transportava material ferroviário destinado à construção de uma linha de caminho de ferro na Índia, antiga colónia inglesa, visto que ainda lá se encontram os carris e uma locomotiva desmontada. Na altura do naufrágio era comum verem-se diversas pessoas da Região a recuperarem parte do espólio do navio, principalmente tecidos de chita, que dava à costa. Em 1963 foi feito um levantamento da carga do navio e alguns trabalhos de desmantelamento e recuperação pela firma António M. Parreira Cruz e Herdeiros Lda. Em Portugal, a imprensa da época falou do naufrágio: CORREIO DA NOITE; NOVIDADES; SÉCULO; CALDENSE; DIÁRIO DE NOTÍCIAS, DISTRITO DE LEIRIA. A imprensa inglesa também relatou a tragédia: THE TIMES; THE LIVERPOOL DAILY POSTA, entre outros.
Todos referem que a bordo vinham pessoas muito importantes, que viajavam entre a Inglaterra e a Índia. Além de missionários, militares, funcionários do Governo e suas famílias, nos documentos é referido um Capitão Rook. A tripulação era de origem escocesa e havia também indianos, marinheiros e serviçais. Um dos relatos do naufrágio é feito por um indiano que sobreviveu ao naufrágio. Houve um grande temporal e nevoeiro. Possivelmente, o naufrágio deu-se de noite, visto que alguns corpos apareceram em camisa de dormir na praia. Apesar da proximidade da terra, a violência das ondas e os remoinhos foram tais que as pessoas morreram por exaustão. (FONTE: GAZETA DAS CALDAS, 10 Março 1989; 23 de Out. de 1992; 6 Nov. 1992; 18 Dez 1992).
Neste "CEMITÉRIO DOS INGLESES", estão sepultadas seis pessoas: duas crianças, uma de um ano e outra de dois anos e meio, e quatro senhoras. Não há homens. Todos estas são campas rasas à excepção da esposa do Revendo William Burgess, Senhora Lillie Hay que tem uma campa diferente com uma lápide à cabeceira, com a data de 27 de Outubro de 1892.
Existe uma lápide comemorativa do centenário deste acontecimento com os seguintes dizeres, da autoria da Junta de Freguesia da Serra do Bouro: “Em 28 de Outubro de 1892, nesta costa naufragou o navio de nacionalidade inglesa S.S. Roumania. Alguns dos seus náufragos repousam sob estas lápides.
Evocação do 1º centenário com a presença das autoridades locais e de entidades consulares britânicas. 12 de Dezembro de 1992 À Direcção do Centro Cultural e Recreativo da Serra do Bouro, fundado a 4 de Maio de 1984, que gentilmente se disponibilizou para dinamizar a recepção dos caminheiros bem como para organizar o almoço, expressamos os nossos agradecimentos.
Se revela a importância pelo exercício físico e por um estilo de vida saudável, queira juntar-se ao grupo de Caminheiros dos Pimpões e venha contemplar o brilho das águas do Mosteiro de Alcobaça, na próxima caminhada. Este evento terá o seu ponto de encontro às nove horas, no último domingo de Janeiro, dia 29, em frente à sede dos Pimpões ou junto ao Mosteiro de Alcobaça, pelas nove horas e trinta minutos.
Texto – Manuel Correia Fotos – Ana Sousa Santos e Jorge Melo
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