Janeiro 2004


De Vale de Maceira aos Altos do Aguiar

No último domingo de Janeiro, manhã chuvosa e fria, os caminheiros dos Pimpões em parceria com a Casa da Cultura José Bento da Silva, de S. Martinho do Porto, partiram à descoberta de Vale Maceira, pequeno lugar na berma oriental do vale tifónico e no extremo Sul da freguesia de Alfeizerão, do concelho de Alcobaça. Esta povoação deve o seu crescimento à estrada real e à estação da mala-posta, como se comprova pelos registos das delegações provenientes de Alfeizerão, que aqui se deslocavam para receber a realeza que, em trânsito para Norte, na estação paravam e pernoitavam. Tendo como ponto de partida a sede do GRDVM (Grupo Recreativo e Desportivo de Vale Maceira) fundado em 1973, local onde os seus habitantes mantêm o hábito de se reunirem com uma certa regularidade para refrescarem as gargantas, praticarem desporto e partilharem um pouco de cultura, o grupo seguiu pela Estrada do Remédio e pela antiga Estrada Real que atravessa a povoação (hoje apenas resta um pequeno troço), até chegar à Estação da Mala-posta. A diligência que transportava o correio parava aqui para descanso do pessoal e muda dos animais que a puxavam. Os novos cavalos atrelados à diligência, por estarem folgados, garantiam a velocidade que se desejava, para uma comunicação rápida. Neste local ainda podemos verificar algumas infra-estruturas da época com destaque para o lagar de vara, exemplar já bastante raro na nossa região (património que deveria ser urgentemente classificado e preservado). Continuando a caminhada, passando pela Quinta da Labrugeira e Casal do Aguiar, vai-se descendo até à Quinta de Santa Bárbara e Casal da Ponte, através de planaltos e vales cruzados por veredas, caminhos tradicionais e estradas enlameadas rodeadas por carrascos, silvas, pinheiros, carvalhos e castanheiros que, apesar da chuva, ao som do canto das carriças, estorninhos, ferreirinhas, pintassilgos, rouxinóis, melros e verdelhões, proporcionaram uma bela paisagem e um agradável passeio. Sobre a Mala-posta sabemos que em 1797 o Estado extinguiu o serviço de Correios-Mores (serviço particular) por iniciativa do ministro de D. Maria I, D. Rodrigo de Sousa Coutinho e chamou para si a responsabilidade e monopólio das comunicações postais, publicando em 1798 um documento em que cria um serviço de diligências entre Lisboa e Coimbra, conhecido como mala-postas. Assim, em 6 de Setembro de 1798 foi criada a diligência entre Lisboa e Coimbra, com posterior prolongamento do Porto, que transportaria a mala de correio para o Norte. No ano de 1818 foi estabelecida uma «Tabela dos dias da partida e chegada dos Correios» a Lisboa, tendo mesmo sido elaborado um mapa dos giros entre as 125 localidades abrangidas, as quais tinham correio semanal, durante uma, duas ou três vezes. De Lisboa, o correio partia às segundas, quartas e sábados, às 18 horas, em dois grupos distintos, dirigindo-se um para Norte e outro para Sul. O grupo, formado por cerca de cinquenta pessoas, percorreu a distância de seis quilómetros aproximadamente em duas horas, realizando assim o 35º passeio pedestre.

Manuel Correia

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