Novembro 2004




ROTA DOS MOINHOS Antas, Larageira, laboeiros

Antas, pequeno lugar dividido entre as freguesias de Carvalhal Benfeito e Alvorninha, (Antas de Cima e Antas de Baixo) terras que pertenceram aos antigos coutos de Alcobaça, foi o local escolhido pelos Caminheiros dos Pimpões, no último domingo de Novembro, para realizar o seu 45º passeio pedestre, circular como os anteriores. O grupo formado por cerca de meia centena pessoas partiu da Associação Cultural Desportiva e Recreativa das Antas e prosseguiu para Norte por caminhos de terra batida, passando pelos quatro moinhos da aldeia, (apenas o moinho do “Pastel” se encontra em funcionamento), Quinta do Bravo, estrada do Vale Serrão até à Laranjeira, em que o Sr. Emídio Sousa Tavares teve a amabilidade de desfraldar as velas ao vento, do seu imponente moinho, à chegada das caminheiros.

Após esta breve pausa, que contemplou a visita ao moinho de vento e onde foi posta à disposição do grupo alguma fruta da zona e uns decilitros de água para refrescar os espíritos, prosseguiu-se em direcção aos Lobeiros, Louriceira, Barrocas e regressou-se às Antas, onde um delicioso almoço foi servido pela Direcção da Associação, a fim de retemperar as forças despendidas durante os nove quilómetros percorridos. A história desta aldeia e das suas gentes perde-se no tempo...Sabemos que o monumento a que denominamos Anta geralmente é constituído por uma câmara delimitada por lajes verticais (esteios), cobertas por outra laje de grandes dimensões a que se dá o nome de tampa, orientada para nascente.

Quando o morto tinha grande categoria social ou exercia na tribo funções de chefia, exigia-se que na morte fosse tão importante como em vida, e nesse caso, construía-se para sepultura do seu corpo, um túmulo especial, diferente do comum dos mortais. Encobertos pela vegetação, passaram muitos e muitos anos sem ninguém dar conta destes monumentos, até porque, não havendo vias de comunicação, a passagem de gente por tais sítios rareava muito. Quando o progresso foi chegando às aldeias, como aconteceu ultimamente neste lugar e segundo o relato de algumas pessoas mais antigas, o último destes monumentos foi destruído para que fosse possível construir uma estrada pública... Sobre este lugar sabemos que em 1527 (segundo os FORAIS DE SANTA CATARINA, publicados pelo PH, da autoria de Luís N. Rodrigues) no numeramento do Reino ordenado por D. João III, sobre os registos do Concelho de Santa Catarina, a aldeia das Antas já possuía seis vizinhos (famílias) e o Carvalhal Benfeito, dez vizinhos.

Podemos concluir assim que já no século XVI esta localidade era bastante povoada, atendendo ao número de habitantes residentes nos meios rurais na época. Entre o património construído e ainda existente, merece destaque a capela dedicada a Santa Maria e S. Braz, restaurada em 2 de Fevereiro de 1985 sob a responsabilidade do Padre Tiago Delgado Tomás. O orago S. Braz, associado às actividades dos lanifícios como padroeiro dos cardadores, também é o advogado das doenças da garganta e protector dos engasgos, como o comprovam os ditos populares, que devem ser acompanhados por uma pancadinha nas costa para produzirem o efeito: “ S. Braz de Canelas / que te abra as goelas” ou outra com teor menos indulgente “S. Braz de afogue / já que Deus não pode”.

Além da capela, queremos destacar os moinhos de vento conhecidos desde há muito como peças fundamentais da memória patrimonial das localidades, embora alguns num deplorável estado de abandono e ruína. Implementados em sítios altos, de modo a tornar possível um melhor aproveitamento, a sua actividade depende essencialmente da força do vento que lhes faz mover velas e mós, em movimentos contínuos e repetitivos, ao som melodioso dos búzios que rodopiam ao vento. O moleiro, possuidor de conhecimentos técnicos bastante profundos, aliados a algumas noções básicas de eólica e de engenharia, era assim o responsável pela transformação dos grãos em farinha, um dos principais responsáveis pela fabricação do pão e, consequentemente, pela alimentação popular.

O impacto que o moinho tem sobre a paisagem, bem como a característica artesanal de que se revestem todos os engenhos produzidos e fabricados por artífices especializados que dedicavam a sua vida a essa tarefa, parecem ser motivos de sobra para podermos considerar os moinhos como património histórico, arquitectónico, etnográfico de elevado valor e interesse. Sobre a sua história, sabemos que os primeiros moinhos de vento foram construídos provavelmente na Pérsia e o seu sistema, mais tarde aproveitado pelos Árabes, foi trazido para a Europa pelos Cruzados.

A sua propagação pela Europa ocorreu entre os Séculos XI e XIII mas em Portugal a primeira referência histórica à sua existência data do século XIV. Nas nossas aldeias, como acontece em grande parte das zonas rurais, fruto da desertificação e baixa natalidade, a população estudantil é bastante reduzida. A título de exemplo, segundo legislação em vigor, entre 2004 e 2007, deverão encerrar todas as escolas do 1º ciclo do Ensino Básico com uma população de 5 a 10 alunos. Este Decreto poderá aplicar-se aos lugares da Laranjeira e dos Lobeiros, locais estes visitados pelos caminheiros e pertencentes à freguesia de Alvorninha, que poderão encerrar definitivamente por falta de alunos.

Sobre esta problemática, há uma pequena história passada no ano passado e publicitada através de Internet, no tema Laranjeira / Vale Serrão, que queremos destacar: “Os 25 alunos do Jardim de Infância da Moita passaram o dia 11 de Março de 2003 na companhia de Susana Caetano, a única aluna da Escola da Laranjeira, em Alvorninha, que aproveitou o dia do seu décimo aniversário para levar a cabo mais uma iniciativa do projecto do agrupamento, intitulado - Um Dia Diferente. A alimentação foi a temática trabalhada por Susana Caetano em paralelo com as crianças do Jardim, com a intenção de aprenderem na escola a roda dos alimentos.

O almoço, oferecido pela encarregada de educação de Susana, decorreu na Associação da Laranjeira e Vale Serrão, e no fim os mais pequenos moldaram uns bolos em forma de laranja. Depois todos levaram uma lembrança, um cesto artesanal para não esquecer este grande dia. Susana Cristina Caetano tem dez anos e é a única aluna da escola do 1º ciclo do ensino básico da Laranjeira”. As colectividades, tal como acontece com as Associações Culturais Desportivas e Recreativas das Antas e Lobeiros, têm tido um papel importante no desenvolvimento de actividades facilitadoras do convívio e da aglutinação dos interesses dos seus residentes. Contribuíram para o sucesso deste passeio pedestre a Direcção da Associação Cultural, Desportiva e Recreativa das Antas, principalmente o Sr. José Henriques e família que disponibilizaram o seu tempo para organizarem o almoço e um excelente aperitivo com filhós e café da avó no início do percurso, que fizeram recordar as deliciosas iguarias de outrora...


Texto – Manuel Correia Fotos – Ana Sousa Santos e Jorge Melo

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